Talvez o crescimento dos fios seja o indício mais perceptível da passagem do tempo no corpo. O hábito de cortar os cabelos umas das outras sempre foi uma constante na minha família materna: vó que corta o de mãe que corta o de tia que corta o de prima que corta o de vó que corta o de neta que corta de mãe. As tesouras são as mesmas que cortam há décadas as tramas de tecidos. Cabelos podados em quintais, em meio às roupas estendidas, plantas que crescem a partir de frutos que foram comidos ali mesmo e conversas compridas. Há quem diga que o cabelo é extensão do pensamento. As histórias que se desatam nesse momento-ritual de cuidado contam que naqueles instantes em que se rompem os fios se rompe tanto mais também, ao tempo em que também renasce.
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